Candidatas ao Miss Bahia 2012 |
Hoje pela manhã, enquanto fazia minha
checagem habitual das postagens noturnas das redes sociais, acabei estarrecido
com um tuite publicado pela jornalista e blogueira Cynara Menezes, no qual ela
compartilhou a foto das candidatas ao concurso Miss Bahia 2012. Na foto
compartilhada, era notória a quase inexistência de modelos pretas e pardas. Com
isso, eu usei o bom e velho Google para pesquisar outras imagens das candidatas
à miss, e vi que todas as fotos revelavam a mesma coisa. Mas como isso pode acontecer
se, de acordo com o senso comum, a Bahia é o estado brasileiro com a maior
população negra? Será que a imagem que fazemos da Bahia está errada?
Como não dispunha de dados científicos
concretos sobre a divisão etnicorracial da população baiana, decidi pesquisar
sobre o assunto e acabei encontrando uma pesquisa muito interessante que,
afinal, ratifica a representação que fazemos da Bahia como um estado
predominantemente negro. Trata-se do Mapa da População Preta e Parda nos
Municípios Brasileiros de Acordo com o Censo de 2010, elaborado pelo
Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER), do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Antes de compartilhar o que descobri a partir do Mapa, gostaria de esclarecer alguns termos comumente utilizados para a classificação etnicorracial das populações. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e outras instituições e pesquisadores – considera como negro o grupo formado por pretos e pardos. Por sua vez, pretos são aqueles que se consideram possuidores do fenótipo africano, enquanto pardos são aqueles que se consideram mais próximos dos brancos quanto à aparência, aqueles que normalmente definem-se como morenos ao responderem qual é a sua raça/cor.
Antes de compartilhar o que descobri a partir do Mapa, gostaria de esclarecer alguns termos comumente utilizados para a classificação etnicorracial das populações. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – e outras instituições e pesquisadores – considera como negro o grupo formado por pretos e pardos. Por sua vez, pretos são aqueles que se consideram possuidores do fenótipo africano, enquanto pardos são aqueles que se consideram mais próximos dos brancos quanto à aparência, aqueles que normalmente definem-se como morenos ao responderem qual é a sua raça/cor.
De acordo com a pesquisa supracitada, Salvador
é, em números absolutos, o terceiro município com maior presença de negros, com
2.126.261 pessoas declarando-se pertencentes a esse grupo etnicorracial num universo
de 2.675.656 habitantes. Se considerarmos os números relativos, vemos que
Salvador é a capital brasileira com o maior número de pretos e pardos, que
perfazem 79,5% da população daquela cidade. Além disso, a Bahia possui sete
entre as 10 cidades com maior presença relativa de negros no Brasil. São elas:
Terra Nova, Teodoro Sampaio, Pedrão, Salinas da Margarida, São Gonçalo dos
Campos, Antônio Cardoso e Aramari, todas com mais de 90% de população negra.
Estimando apenas a população preta, observamos
que Salvador é a cidade que possui o maior número de habitantes desse grupo (743.718
pessoas), e que sete municípios da Bahia figuram entre os 10 com maior
população preta, em números relativos. São eles: Lajedo, São Gonçalo dos
Campos, Conceição da Feira, Cachoeira, Salinas da Margarida, Serrano do
Maranhão e Santo Amaro, cidades que variam entre 38,4% e 47,5% de habitantes
pretos.
Ora, se tanto o senso comum, quanto dados
obtidos por pesquisas científicas comprovam que a maior parte da população
baianas é formada por pretos e pardos, por que quase não existem modelos
disputando o concurso de Miss Bahia? Esse fato revela os efeitos perversos do
racismo brasileiro.
Candidatas ao Miss Bahia 2013 |
Infelizmente, em nosso país – onde mais de
50% da população declara-se preta ou parda, de acordo com o IBGE – a estética
negra ainda é desvalorizada. Traços do fenótipo africano, como o formato do
nariz, dos lábios e o tipo de cabelo são considerados feios. Quem nunca escutou
as expressões “nariz de batata”, “cabelo ruim”, “cabelo de pico”, “beiçola”,
entre outras, em referência a pessoas negras? Isso é característica do racismo
de marca vigente no Brasil, de acordo com Oracy Nogueira, e também é fruto de
um padrão de beleza que valoriza a estética europeia, onde são consideradas
lindas, por exemplo, mulheres brancas, com cabelos lisos e louros, olhos azuis
e, preferencialmente, magras.
Diante desse padrão de beleza, além de as
mulheres negras serem preteridas em relação às brancas em concursos de miss,
muitas delas incorporam tal padrão de beleza, achando-se feias e não se
inscrevem em tais concursos. Isso acaba trazendo sérios problemas de autoestima
às mulheres negras, que acabam desvalorizando sua aparência e, muitas vezes,
escondendo a sua beleza.
Isso é triste se considerarmos que, como
disse acima, mais da metade da população de nosso país é formada por pretos e
pardos, e que, consequentemente, mais da metade das mulheres brasileiras são
negras. E é mais triste ainda quando vemos que uma mulher negra que consegue
vencer o preconceito e ganhar um concurso de miss tem sua pele embranquecida
nas fotos publicadas em jornais, como foi o caso da Miss Espírito Santo 2012.
Referências
LABORATÓRIO DE ANÁLISES ECONÔMICAS, SOCIAIS E ESTATÍSTICAS DAS RELAÇOES RACIAIS. Mapa da População Preta e Parda nos Municípios Brasileiros de Acordo com o Censo de 2010. In: Tempo em Curso. Ano III, Vol. 3, nº 10, outubro, 2011. Disponível em: <http://www.slideshare.net/laeserieufrj/tec-2011-10>. Acesso em: 11 mai. 2013.
NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: Sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil. In: Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 19, n. 1. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v19n1/a15v19n1.pdf>. Acesso em: 11 mai. 2013
OLIVEIRA, Emília. Conheça as 30 Canditatas ao Miss Bahia 2013. iBahia, S. l., 08 mai. 2013. Disponível em: <http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/conheca-as-30-candidatas-ao-miss-bahia-2013/?cHash=e4ddb3749b2033d76c743daa1e077591>. Acesso em: 11 mai. 2013.
Bem, pelo menos a Miss Universo 2011, foi uma negra. Curioso mesmo que sejam todas brancas as candidatas...Mas as vezes pensamos em "Bahia" só como lugar de pretos. Tem branco lá tb. Nada no Brasil é tão simples de analisar quando se trata de pretos, brancos, mulatos, etc...Mas tb achei estranho. De verdade. Vale a pena acompanhar o desfecho desse concurso aí!!
ResponderExcluirNão acho a classificação racial tão complicada assim no Brasil, onde o racismo é de marca, ou seja, baseia-se na aparência das pessoas. Talvez ela seja mais difícil nos EUA, onde, devido à sua origem, pessoas loiras de olhos azuis, como a Fergie, são consideradas negras.
ExcluirVale mesmo acompanhar o desfecho do concurso ;-)
Sou contra cotas, mas acho que a representatividade das candidatas deveria ser proporcional à população. 80% deveria ser negra, o inverso da miss Rio Grande do Sul, por exemplo.
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