Nota Introdutória
O conto cuja publicação inicio neste
dia, começou a ser escrito há uns dez anos, ainda sobre o papel e inspirado em
um produto da indústria cultural que eu consumia na época, apesar de somente ter
conseguido escrever seu final agora. Uma versão preliminar deste texto foi
publicada num blog que não existe mais, pelos idos de 2005 ou 2006. Porém, as
várias tarefas de meu curso superior me impediram de concluí-lo, além de terem
me obrigado a abandonar o falecido blog.
Sinceramente, desejo que os
distintos leitores apreciem o presente escrito, e que comentem abaixo,
compartilhando suas impressões sobre ele.
***
Era noite na cidade de Saint
Michel e, como em todas as noites, uma parte dos moradores estava na praça da
cidade, se ocupando em fazer nada. Então alguns pescoços se viraram e olhos se
fixaram em um homem desconhecido que caminhava lentamente no local. Ele era
elegante, alto, de longos cabelos negros, mantidos presos em um rabo de cavalo
que chegava até sua cintura. Sua roupa destoava um pouco do local e da época, e
seus olhos acinzentados pareciam estar atentos a cada detalhe do que ali
acontecia.
– Me desculpa, moço, mas não pude
deixar de reparar que você não é daqui. De onde você vem? – Perguntou
repentinamente uma jovem morena, de cabelos castanhos encaracolados e olhos
verdes, rompendo o transe do novo visitante.
– Venho de um lugar muito longe
daqui... – Disse o viajante com um olhar desconfiado para a garota.
– Uau! De fora do país?
– Tecnicamente... Sim – respondeu
o estranho após uma breve hesitação.
– Meu nome é Sara, qual é o seu? –
Perguntou a garota, esboçando um sorriso.
Ao ouvir essa pergunta o ilustre
desconhecido só não ficou mais branco do que uma folha de papel porque,
naturalmente, já apresentava certa alvidez.
– Me chamo Matheus... Matheus
Weiss – respondeu, quase gaguejando.
– E o que você está fazendo por
aqui? – Perguntou Sara.
– Na verdade, estou apenas de
passagem. Desembarquei no porto da cidade hoje à tarde e estou indo para a Capital. Como gostei de Saint Michel, resolvi passar alguns dias por aqui –
respondeu Matheus já acostumado com a ideia de ser entrevistado.
– Se você chegou hoje, ainda não
deu tempo de conhecer toda a cidade. Venha comigo! Vou te apresentar alguns
lugares.
Matheus acompanhou a garota, que lhe mostrou o
resto da praça, com suas várias barraquinhas de comidas e de artesanatos. A Igreja Matriz de Saint Michel ficava ali. Era uma construção mediana, de estilo barroco. Possuía duas portas laterais e uma central, coroada com uma cruz de metal. Sara entrou na Igreja e foi
seguida por Matheus. Dentro do templo, a garota percebeu que o viajante parecia
um pouco desconfortável naquele lugar, mas não se sentiu à vontade para perguntar
o porquê.
– Esta Igreja foi construída
pelos primeiros habitantes daqui – Sara começou a explicar. – Eles eram católicos franceses que fugiram da Europa por
causa dos conflitos religiosos que ocorreram no período da Reforma Protestante.
Eu também não sou de Saint Michel. Minha família é de uma cidadezinha do
interior, mas tive que mudar a três anos para fazer faculdade. Estou estudando
História, e minha pesquisa de graduação é sobre a História local “guardada”
pelas famílias mais tradicionais da cidade.
Depois de mostrar a Matheus
algumas imagens e pinturas da Igreja, Sara saiu e guiou viajante pela rua dos
cafés, que ligava a praça até a praia. Várias pessoas encontravam-se sentados nas mesas dispostas nas calçadas da rua, comendo e bebendo. Após alguns minutos de caminhada, o
casal chegou até a orla. O mar estava calmo e a lua cheia apresentava uma leve
coloração avermelhada. Matheus se pôs a refletir, mas logo foi interrompido por
Sara:
– Agora me responde uma coisa: de
que “lugar muito longe daqui” você veio?
– Na verdade, sou austríaco –
respondeu Matheus olhando para a lua.
– Uau! E o que te trouxe pra cá? –
Perguntou Sara, curiosa.
– Na verdade, estou em um ano
sabático e gostaria de conhecer novas pessoas e lugares.
– E o que você fazia na Áustria?
– Já fui lavrador, artesão,
operário, marinheiro... Tive tantas ocupações quanto foram as vezes que viajei
pelo mundo. Por isso que eu usei o “tecnicamente” quando respondi que era de
fora do país. Já fui de tantos lugares e não me sinto de lugar nenhum...
– Nossa! E quantos anos você tem?
– Na verdade, não gosto de dizer
a minha idade – disse Matheus secamente.
– Tudo bem, então! – Sara
exclamou ao perceber que tinha cometido uma gafe. – Está ficando tarde... Acho
que é melhor irmos andando.
– Se você quiser, posso te
acompanhar até em casa – falou Matheus com a voz mais suave.
– Então, vamos indo.
Os dois se poram a caminhar,
saindo da praia. Um pouco depois, o casal cruzou com um grupo de homens, quatro
ao todo, todos vestidos com roupas escuras e pálidos, embora um possuísse a
pele menos alva que os outros. O que parecia ser o mais velho e imponente dos
quatro olhou fixamente para o casal enquanto ele passava, ora se detendo em Sara,
ora em Matheus. Este enrijeceu sua expressão enquanto passava pelo grupo, mas
não comentou nada com a garota, que pareceu não ter percebido que o homem a
fitava. Quando o quarteto se afastou do casal, o homem cuja aparência mais se
destacava mantinha o olhar fixo nos dois, enquanto seus lábios formavam um
sorrisinho sarcástico em meio ao cavanhaque preto e bem aparado. Matheus e Sara
continuaram a caminhada. Chegaram de volta à praça e a atravessaram. Um pouco
depois, Sara parou na frente de um prédio antigo, de cinco andares.
– Eu moro aqui – disse Sara, sorrindo. –
Obrigada pela companhia!
– Não há de que! Nos veremos
amanhã novamente? – Falou Matheus, com ares de interessado.
– Se você quiser, estarei na
pracinha. Costumo passear ali todas as noites.
– Então, até amanhã! – Despedi-se
Matheus.
Sara entrou no prédio e Matheus voltou
a caminhar, adentrando em uma rua pouco movimentada e iluminada que se situava
a uma quadra mais à frente. Deteve-se na frente de um sobradinho de dois
andares, onde outrora funcionava uma peixaria, mas que agora se encontrava
abandonado. Matheus olhou a sua volta para ver se não havia pessoas passando
por ali e, constatando a negativa, deu um salto, parando sobre a marquise que
cobria a antiga entrada da peixaria. Na altura do segundo andar do sobrado,
havia uma abertura para janela, que tinha sido cerrada com tábuas de madeira.
Matheus removeu algumas das tábuas e entrou no prédio, fechando a abertura
novamente pela parte de dentro.
***
Ainda na rua da orla, o quarteto já mencionado entrou em um Opala negro, com os vidros
escurecidos. O menos alvo sentou na poltrona do motorista e deu partida no carro.
O Opala saiu e, depois de percorrer alguns quilômetros na direção oposta à
praia até chegar a um lugar isolado, do outro lado da cidade. O motorista estacionou o carro na frente de um casarão antigo, uma das poucas construções localizadas ali. Todos desceram do carro, exceto aquele que o dirigia.
– Vamos descansar por ora, rapazes – falou o homem de cavanhaque, que parecia ser o líder do grupo.
– Nossas próximas noites serão cheias. Sandro, pela manha, investigue sobre a morena
que passou por nós, próximo à praia. E, principalmente, procure saber sobre o
homem que a acompanhava. Algo me diz que minhas buscas chegaram ao fim!
– Sim, senhor! – Respondeu o
motorista, saindo com o carro logo após. Os demais entraram no casarão.
Post Scriptum
Os
leitores que reverem esta postagem agora perceberão que houve algumas
alterações no texto, desde a primeira vez que o publiquei. Depois de conversar com algumas pessoas que me são caras –
principalmente com o Irson Barbosa Jr. e a Josy P. Silva – decidi fazer algumas
mudanças nesta primeira parte do conto Lua Escarlate, antes de dar
prosseguimento à publicação da história que me propus a contar. Fiz isso para
tornar o enredo mais consistente e factível. Espero que vocês gostem do
resultado.
(09
de Junho de 2012)
Roberto!!!! Que legal!!!!!!!!!!!!! Uma história de vampiros???? Fiquei interessada!!! Com certeza é bem melhor do que Crepúsculo!!! Saudaçoes "escritivas" para vc, irmão de blog!
ResponderExcluirOh, não! Uma coisa que eu não queria era ter minha historieta comparada com Crepúsculo; nem para o bem, nem para o mal... Mesmo assim, muito obrigado pelo elogio!
ExcluirAguarde até o próximo sábado para mais revelações!
Opa, passaram-se +ou- 10 anos e ainda continuo com a mesma impressão dessa Sara... UAHuahuAhuahuaH
ResponderExcluirBom beto, com o passar do tempo acho que as coisas meio que mudaram, não considerando a forma como escreve. Mas olhando para a historia em sí. Inicialmente está meio gratuito, enquanto ao que ocorre... Não me recordo o que vem depois. Mas como os atos ocorrem, digo a trama está/era bem folgada e sem consistência. Vamos por assim, temos este primeiro encontro onde a ação que temos é a personagem apresentar ao desconhecido a cidade e de súbito, ele é convidado a ir para a casa dela. Não estou dizendo que isso é improvável ou impossível, só que a motivação ficou muito entre linhas no dialogo de minutos... talvez fosse mais interessante nos mostrar como a lábia da personagem fez a outra nutrir a confiança e a simpatia necessárias para o convite. Isso deixaria mais rico, consistente e envolvente ao leitor.
Claro, só minha opinião.
Eu reconheço que o convite de Sara e a aceitação de Matheus foram forçadas, mas, como minha maior preocupação era terminar a história, eu deixei como estava...
ExcluirQuero ver se houve uma mudança perceptível no meu estilo, já que as partes IV e V foram escritas na última semana. Te convido a observar isso e dar um feed back ;-)
Ficou muito bom!!!!!!
ResponderExcluirQue bom que você gostou dessa vez! :P
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