Quando as notícias sobre o
massacre ocorrido no casarão de Willian e nas mansões de outros distintos
senhores de toda a Região Metropolitana foram veiculadas nos jornais locais, os
habitantes de Saint Michel se aprofundaram em seu sentimento de medo. Os prefeitos
de todas as cidades da região pediram a intervenção da Força Nacional de Segurança,
um destacamento especial formado pelos melhores homens do Exército, da Marinha
e da Aeronáutica. Em Saint Michel, os membros da Força Nacional de Segurança
chegaram no dia posterior às invasões, em dois momentos, um destacamento no meio
da tarde e outro após o cair da noite. Os 60 militares designados para a cidade
foram recepcionados pelo prefeito, e ocuparam as instalações do quartel da Polícia
local, localizado na rua da orla.
Naquela noite, Matheus saiu de
seu refúgio e andou alguns passos pelas ruas de Saint Michel, quando reparou
que uma quantidade maior de veículos da Polícia rondava pela cidade. Intrigado
com isso, ele decidiu fazer uma visita a Sara, para se certificar de que estava
tudo bem com ela. Assim que chegou a uma quadra do prédio onde a garota morava,
o estrangeiro percebeu que havia ali uma grande concentração de policiais, então
apertou o passo na direção do edifício. O céu estava encoberto de nuvens
naquela noite. Matheus observou que os poucos populares que se arriscavam a
sair de casa, motivados pela curiosidade, estavam usando roupas de frio. Quando
finalmente chegou próximo ao prédio de Sara, ele viu que a construção tinha
sido lambida pelo fogo horas antes, mas que ainda permanecia de pé. Um grupo de
homens da Força Nacional de Segurança, do Corpo de Bombeiros e da Polícia local
circundava o prédio.
Matheus se esgueirou por uma
viela situada na lateral do edifício e conseguiu entrar pelos fundos, onde
havia pouca vigilância. Dentro do prédio não havia ninguém. As entradas de alguns
apartamentos estavam sem portas, mas contavam com faixas de isolamento colocadas
pelas autoridades. Matheus entrou em cada apartamento do primeiro andar,
olhando em volta com olhos apertados e cheirando o ar. Como não encontrou
nenhum sinal de Sara naquele pavimento, ele repetiu sua busca nos andares
superiores. Enquanto Matheus subia as escadas, a fumaça que ainda persistia atrapalhava
um pouco sua visão. Pedaços do teto que tinham caído sobre os degraus
dificultavam a subida. Quando chegou ao quinto andar, o estrangeiro sentiu, em
meio ao cheiro de fumaça, o aroma do perfume que Sara usava na noite em que
jantaram juntos. A fragrância saía pelos buracos de uma porta que tinha sido
quase que completamente consumida pelo fogo. Matheus atravessou a porta e
entrou no apartamento que ela deveria encerrar, olhou em volta de si e percebeu
que a televisão e outros móveis tinham sido quebrados antes de serem queimados.
Houve luta, imaginou. Um rastro
vermelho percorria o chão, indo da sala de estar até o único quarto que havia
ali. Matheus seguiu o rastro e entrou no quarto, atravessando a porta aberta. O cheiro está mais forte aqui, pensou no
interior do quarto. Ali, ele viu que na parede adjacente a cama de Sara havia o
desenho de uma espada, feito de uma substância vermelha, e alguns traços que
pareciam formar uma estranha inscrição. Ao ver aquele quadro, o homem endureceu
seu semblante e cerrou seus dentes em fúria, deixando à mostra seus caninos
superiores, longos como presas. Virou-se e saiu apressadamente.
***
Algum tempo depois, no quartel da
Polícia de Saint Michel, os membros da Força Nacional de Segurança se reuniram
num pátio reservado exclusivamente para eles. Aquele que parecia ser o
comandante do grupo, um homem negro, escanhoado, careca e que usava óculos
sobre seus maliciosos olhos negros, andou de um lado ao outro, perscrutando os
homens em formação. Depois, parou na frente das filas de soldados e disse:
– Senhores, nosso ofensor tem
base nesta cidade, a apenas dez quilômetros daqui. Seu ataque levou à
destruição os fracos com os quais eu dividia o poder.
O comandante trocou olhares com
os homens que encabeçavam as seis filas de membros da Força Nacional de Segurança.
Estes tinham olhos ávidos como os de abutres, e eram extremamente pálidos. Após
alguns segundos de silêncio, o discurso do comandante continuou:
– Os senhores, especificamente,
se mostraram mais aptos que os que tombaram sob o golpe de Morgan, portanto,
serão meus novos imediatos assim que aniquilarmos nosso inimigo. Depois de
acabarmos com Morgan, daremos cabo dos Grandes que me traíram, e os senhores
ficarão em seus lugares – sorrisos maldosos brotaram nos seis rostos macilentos.
– Agora vamos senhores! E fiquem a vontade para se alimentar de todo o gado que
encontrarem!
– Sim, senhor Belmonte! – Gritaram
os homens perfilados. Belmonte virou-lhes as costas, atravessou o portão do
pátio do quartel e dirigiu-se a um dos seis jipes militares que estavam estacionados
do lado de fora. Seus soldados o seguiram e ocuparam todos os veículos.
Um por um, os jipes em que
estavam os homens de Belmonte iniciaram um cortejo do quartel da Polícia até a
praça central. Ali, os veículos pararam e alguns dos soldados saltaram e
andaram em direção meia dúzia de pessoas que não estavam suficientemente
assustadas para permanecer em suas casas. Caso a sensatez fosse uma das
virtudes daqueles populares, eles viveriam o suficiente para ver o sol nascer
no dia seguinte. Em vez disso, eles estavam ali aguardando pela sua morte,
mesmo que não o soubessem. O ataque dos vampiros foi violento. Cada ser humano
foi cercado por cinco das criaturas da noite, e tiveram seus corpos destroçados
pela ferocidade daqueles que deles se alimentavam. Depois de terem seu apetite
saciado, os vampiros voltaram para os jipes e continuaram seu trajeto na
direção oposta ao mar.
***
Na base de Morgan, vampiros e
serviçais estavam a postos em vários pontos da propriedade, tanto fora quanto
dentro do casarão. O rival de Belmonte encontrava-se na mesma sala de estar na
qual, em noites anteriores, sugara todo o sangue da jovem loira raptada na rua
da orla. Ele trazia nas mãos sua espada com rubis cravejados no cabo negro e
bainha de ouro, e estava cercado por dez vampiros e por Sandro. Sara estava no
mesmo local, pendurada em uma espécie de cruz em forma de X, constituída por
duas tábuas de madeira presas em aberturas feitas no chão. As roupas da garota
foram rasgadas. Marcas de presas distribuíam-se por todo o seu corpo e hematomas
figuravam em seus olhos e nos cantos de sua boca.
– Senhor Morgan, Belmonte já deve
estar se aproximando com o seu exército! – Exclamou Sandro. – O Senhor está
certo de que é sensato esperá-lo aqui?
– Meu caro Sandro, infelizmente,
sua lealdade não é igualada por sua confiança! Você mesmo confirmou que o amiguinho
desta garota é a chave para nossa vitória – disse lançando um olhar malicioso
sobre Sara.
– Sim, mas... Se não tivermos
força suficiente para derrotá-lo? Além disso... Sofreremos um duplo ataque.
Será que conseguiremos resistir?
No momento em que Sandro terminou
de questionar Morgan, explosões atraíram a atenção de todos os ocupantes da
sala de estar para a grande janela que dava para a entrada da propriedade. As
cortinas abertas permitiram que fossem vistos pelo menos três focos de incêndio
além dos muros, sugerindo que bombas foram lançadas para fora. Após outra
explosão, o portão que encerrava a propriedade tombou, e alguns homens
atravessaram a abertura que ficou em seu lugar. Os defensores de Morgan
alvejaram os primeiros invasores, mas uma segunda leva conseguiu derrubar os
que estavam mais próximos do portão caído, atirando neles com suas armas.
Do lado de fora, Belmonte estava
na parte externa do cerco que seus homens impuseram ao casarão de Morgan,
gritando ordens que eram repetidas pelos seus seis capitães, que estavam mais
próximos da batalha. O líder dos vampiros da Região Metropolitana observou que a
segunda leva de seus lacaios que atravessaram os portões voltou ensandecida, vampiros
e serviçais correndo com seus corpos em chamas, gritando e esbracejando
desesperadamente.
– Atirem neles! – Bradou Belmonte.
– Não deixem que eles cheguem próximos à linha de cerco!
Prontamente, os soldados de
Belmonte atenderam e seus homens queimados caíram no chão, depois de alvejados
pelos companheiros que estavam mais próximos. Um terceiro grupo atravessou o
portão, depois um quarto. Gritos, barulho de tiros e de explosões enchiam o ar,
enquanto fogos brilhavam sobre a escuridão da noite, dentro e fora da
propriedade de Morgan.
No interior da mansão de Morgan,
o vampiro golpista e a sua comitiva se sobressaltaram com o barulho que uma das
portas da sala de estar emitiu ao ser violentamente aberta. Logo em seguida,
Matheus entrou na sala. Seus cabelos estavam soltos e desgrenhados, seus olhos
acinzentados estavam inflamados de ódio e sua boca estava entreaberta,
permitindo que os outros ocupantes da sala vissem suas presas.
– Finalmente, você apareceu! –
Exclamou Morgan, com um sorriso no rosto. – Aquele que de tempos em tempos
caminha sobre a terra durante as Noites Carmins, sobre as quais reina a lua de
sangue. O primeiro dos vampiros: Caim! Vejo que você ainda se lembra do idioma
de Nod, pois compreendeu as instruções deixadas por Sandro.
roberto abraços, continue com seus pitacos. está otimo. prossiga investindo no blog - abraços lamarque
ResponderExcluirMuito obrigado, Lamarque! Que bom que você gostou de minhas publicações. Sucesso pra você também!
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