quinta-feira, 26 de julho de 2012

Racismo e Padrão de Beleza: O Caso da Miss Espírito Santo 2012

Na semana passada, mais precisamente na quarta-feira, 18 de julho, ocorreu algo que, a meu ver, foi um tanto quanto inusitado. Uma modelo negra ganhou o concurso Miss Espírito Santo 2012. Ela se chama Fernanda Pereira do Espírito Santo, é moradora do município da Serra, estuda publicidade e propaganda e participa do referido concurso desde o ano de 2010, de acordo com informações veiculadas nos jornais da Grande Vitória e em diversos sites da internet.

Fernanda do Espírito Santo

Disse acima que é algo inusitado uma mulher negra ganhar um concurso de Miss porque, apesar de existirem modelos pertencentes a esse grupo etnicorracial, elas ainda são a minoria em um mundo em que mulher bonita tem que ser magra, branca, de olhos claros e cabelos lisos, preferencialmente loiros. Caso alguns dos caros leitores acreditem que isso seja apenas uma viagem de um militante em prol da igualdade racial, basta abrirem o site Google Imagens e digitar Miss Brasil no campo de buscas. Acabei de fazer isso e vi a foto de apenas uma mulher negra.

Acontece que, apesar de uma modelo negra conseguir romper o estereótipo supracitado e ser eleita Miss, tal padrão de beleza, que tem sido constantemente propalado pela mídia, ocasionou um dos fatos mais bizarros que já vi. Na foto que ilustrou a reportagem do Jornal A Gazeta sobre o resultado do concurso, publicada no dia 19 de julho, Fernanda do Espírito Santo aparece com a pele bastante embranquecida. Desse modo, só consegui perceber que a referida modelo é negra após ver a reportagem análoga no jornal A Tribuna. Depois de me chocar com o fenômeno que acabei de narrar, mostrei as fotos dos dois jornais para várias outras pessoas, perguntando se elas também percebiam se houve o embranquecimento da imagem da Fernanda publicada em A Gazeta. Uma das pessoas com quem fiz essa experiência, inclusive, julgou que as duas fotos retratavam pessoas diferentes. Abaixo seguem as fotos publicadas nos dois principais jornais da Grande Vitória, gentilmente escaneadas por Fred Barcelos.

Foto de A Gazeta


Foto de A Tribuna

Não acredito que o que ocorreu foi algo acidental, provocado pelo flash utilizado pelo fotógrafo que registrou a imagem. Na minha opinião, o embranquecimento da pele de Fernanda foi proposital, fruto de um tratamento digital da foto que retratava a modelo. Um reflexo do padrão de beleza que descrevi anteriormente, sendo esse padrão oriundo do racismo que permeia a nossa sociedade, apesar de muitos ainda afirmarem veementemente que não há racismo no Brasil. Apesar disso, a eleição de Fernanda como Miss Espírito Santo representa um avanço na superação do padrão de beleza eurocêntrico, e deve ser comemorado por aqueles que lutam pela igualdade racial.

8 comentários:

  1. I'm not soooo suuuure...
    A iluminação está muito forte na primeira foto, diferente da segunda. As fotos são claramente de momentos diferentes. Mas é inegável que é exagerada a diferença, então, seu argumento de manipulação realmente se torna válido. Entretanto, não recomendo ser precipitado ao julgar a situação como racismo ou imposição de um padrão estético, para não cair na mesma falha que o meio de comunicação geralmente cai.
    (continua)
    O que temos aqui é uma hipótese levantada pelo amigo.
    Dedicarei os próximos não para defender o ponto de vista de um meio de comunicação que geralmente é parcial e tendencioso. Nem busco ir contra o amigo ou somente causar polemica. Mas busco sim, entender o que ocorreu de forma plausível, imparcial e sem estar envolto por emoção. Ao fim então ter uma outra hipótese que não necessariamente invalidará a hipótese do amigo, Uma vez que a uma primeira observação é também inteiramente plausível.
    Vamos começar nossa analise de caso com o material que temos em mãos: as fotografias.
    Se pararmos para observar a foto do jornal A Gazeta, veremos o seguinte: As cores estão estouradas por igual com uma péssima saturação e as sombras bem marcadas. Elas ainda revelam a cor da modelo veja bem, mesmo estando branca em sua face, na periferia dos braços veremos que no mínimo ela é uma morena. Ainda assim sua face realmente está muito branca, logo as saturações deixam mais forte, em uma primeira observação, a possibilidade de um tratamento digital.

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  2. Um momento MUITO diferente foi capturado pela A Tribuna: Uma foto com iluminação mais contida e homogenia e provavelmente com ISO, velocidade e iluminação diferente da primeira. Esta foto obviamente também passou por uma maquiagem digital, uma vez que todo o material passa pelo mesmo.
    É bem claro que as duas fotos foram captadas em momentos e por dois profissionais distintos, somando a estes fatos provavelmente os equipamentos devem ser diferentes. As saturações são bem distintas uma das câmeras deixa os vermelhos bem vivos enquanto a outra os apaga. O que e completamente normal, já conversei sobre isso contigo algo sobre Canon vs nikon.
    Mas novamente isso não seria fato para tamanho estouro, o que realmente caracterizaria uma edição na foto. Deixando possibilidade sim para seu argumento.
    Entretanto temos que lembrar que no campo editorial, ainda mais em jornais, o ritmo de produção é frenético. Uma noticia pode mudar a qualquer momento ou ainda pode aparecer no último minuto e a agilidade de trabalho é a palavra chave. Afinal nunca se sabe quando será necessário o grito de: "PAREM AS PRENSAS!"
    Sem nem fazer uma pesquisa julgo que tal evento deva ter ocorrido no período noturno, esta ideia se confirma com uma rápida pesquisa. "A vencedora será revelada durante a cerimônia do Miss ES 2012, na quarta-feira (18), a partir das 19h, no Shopping Mestre Álvaro, na Serra." informa o Gazeta online.
    (continua)

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    1. Quem escolhe as fotos para publicar não é imparcial. Eles poderiam ter escolhido outra entre as muitas que tinham. Por que escolheram justamente essa?

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  3. Sendo um evento que foi programado para ocorrer as 19 horas, muito dificilmente deve ter começado neste horário. No pior dos cenários, deve ter iniciado com 1 hora de atraso. A solenidade deve ter se arrastado ainda por mais algumas horas até a proclamação da vencedora como é o padrão. Mas esta parte é somente especulação. Bom, feito isso inicia-se algo que podemos chamar de infernal correria editorial. Onde reúnem-se os envolvidos, redige-se a matéria, revisa-se a redação, retoca-se as imagens, diagrama-se a página, revisa-se todo o material que só então vai para a gráfica ser rodado e ainda no processo de ser rodado é necessário calibrar os registros da impressão, muito tempo é gasto nesse processo e nem sempre as revisões são plenamente felizes. Estamos a falar da primeira edição claro. Gostaria então de colocar aqui uma máxima do projeto gráfico: Deus sabe como é fácil cagar impressos.
    A partir de especulações, mas essas são tão prováveis como o próprio racismo em sí, devo dizer que é bem provável um caso de erro humano. Diante do horário "em cima" é fácil cometer erros, um dos mais fáceis e dos prováveis motivos desta gafe seria simplesmente esquecer de converter um arquivo para o modo CMYK, ou ainda aplicar desatentamente uma action de tratamento do photoshop. É muito comum ver fotografias com péssimo tratamento talvez até um erro de impressão ou conversão de arquivos.
    E é ai que a hipótese de racismo/imposição de padrões vai se tornando mais fraca. Pois se pesquisarmos no site do mesmo conglomerado do jornal, o Gazeta online, nós vamos encontrar uma redação editorial com horário de publicação 23h25min. Bom, com isso chegamos a conclusão de que o trabalho se alongou até mais tarde na redação, devemos ainda lembrar que o tempo para a publicação na internet é bem mais rápido. A formatação do texto e diagramação são significativamente mais simples que fechar a publicação do jornal que tem que ser montado com preocupações maiores de compor com outros elementos em página. E, ao meu ver, encontramos nesta mesma publicação o fator que enfraquece ainda mais a hipótese apresentada: a mesma foto publicada no jornal.
    (continua)

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  4. Ao lado dela vemos outra mais aberta, e chegamos a conclusão que: sim, o ambiente estava muito iluminado. E isso é um prato cheio pra um erro de tratamento rápido ou de impressão, já que cada meio apresenta uma resposta diferente, isso se torna ainda mais comum se levar em conta o prazo apertado em que o jornal deve ter sido enviado para ser rodado.

    Veja bem acho sim, existe a chance de ter ocorrido isso que apontas. Mas não creio que seja o único cenário. Novamente, não quero invalidar a sua hipótese, somente estou observando outras e cada vez mais acho estas mais prováveis que a apresentada. Ainda mais que a mesma foto foi publicada sem a suposta "edição" no meio de comunicação digital da mesma empresa (http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/07/divirta_se/noticias/1315209-fernanda-pereira-e-a-miss-espirito-santo-2012.html). E diga-se de passagem essa foto é maquiada também, não fazendo sentido se dar ao trabalho de em um veículo fazer uma campanha "subliminar" enquanto no outro não. Sendo bem mais provável que a foto tenha ido para a gráfica como RGB no lugar de CMYK, por um descuido, e gerando essa infeliz e indesejada diferença.

    Opnião totalmente parcial agora: ok, haviam outras fotos, mas acho que a intenção em sí da publicação desta foto foi boa. A modelo estáva radiante em alegria agradecendo de punho erguido. Um momento muito mais poderoso que o apresentado no jornal concorrente. Entretanto abriu margem para esta outra interpretação. Bom, acontece e é bem comum...

    Agora... como comentário a parte: a foto apresentada no jornal A tribuna está muito ruim, não traduz a glória do momento para a moça e está demasiada magenta.
    (fim)

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    1. Vc não é menos emocional do que o articulista. Ambos são emocionais e racionais ao mesmo tempo.

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  5. Gosto muito do jeito q vc escreve! Seus posts estão evoluindo e as discussões sempre válidas.
    Vc acredita q quando vi as fotos da miss ES no Gazeta online e no jornal não percebi q ela era negra, achei q era no máximo morena, não sei se foi intencional, mas quanto ao esteriótipo concordo com seus comentários, e acrescento ainda as modificações q as mulheres fazem nos seus corpos e rostos. A morena tem q afinar o nariz, a loira tem q colocar silicone ou então aumentar os lábios... o pior é que essas modificações saem da televisão e das passarelas e passam a fazer parte dos desejos de todos os homens e mulheres, o que leva muitas vezes as mulheres mutilarem seus corpos para se adequar a um padrão q se modificada com a moda de cada estação.

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  6. Gente... eu poderia até comentar, mas a Heloisa Helena leu (e grafou) meus pensamentos!

    Bem, não custa repetir, não é? Seu blog está, a cada dia, melhor...

    Abraços meus,
    Cristiane

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